Esta é a histórica praça de maio em Buenos Aires, ao fundo a Casa Rosada, sede do governo argentino. A praça constitui-se em um lugar muita historia e paz, vistada por pessoas do mundo inteiro. Estivemos por lá Paulo ( meu filho) e eu, quando da participação de encontro que discutia o desenvolvimento rural latino americano.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

A música como linguagem - parte III


Vicente Beltran, na obra A Canção Tradicional na Idade de Ouro (1990) conta que durante o Renascimento, o novelista francês Jean Renarts renovou o mundo da novela, tirando sua aridez e colocando música, melhorou o relato mediante a introdução de belas canções, possíveis de serem cantadas e acompanhadas por violão. Nelas, o autor desejava cantar vivamente cenas da nobreza e a dignidade, como características do ideal que tão intensamente perseguiam as cortes medievais e renascentistas. Na corte convivem cavalheiros e damas, praticando a galanteria, mas o fazem através da música.
Por outro lado, Enio Squeff, estudando A Música na Revolução Francesa (1989) diz que o compositor André Ernest M. Grétry (1741 – 1813) ao relatar a música tocada durante a execução do Rei Luis XVI, o que mais o impressionou foi o ritmo com que os soldados da escolta acompanharam o cortejo com seus tambores: era em 6x8, um tempo desmedidamente alegre, usado na composição de canzonettas, uma das peças mais características da opera bufa. O trágico, escreveu Grétry, era precisamente o contraponto entre a cena, a lúgubre caminhada do rei até o cadafalso, e todo o acompanhamento alegre, quase dançável de um ritmo escandalosamente feliz.
Segundo Squeff, os cronistas da Revolução Francesa contam que nesses dias o povo entoava nas ruas, e também nos teatros, uma canção que marcará época: é Çaira. Essa música, como dezenas de outras, não foi composta especialmente para a Revolução, foi adaptada de uma canção popular chamada Lê carillon national, ainda dos tempos de Maria Antonieta. Mas será o hino de ódio aos realistas e a todos os que não aceitam a nova ordem. Num dos trechos a música diz: ah ça ira, ah ça ira, lês aristócrates à la lanterne. A referência à lanterna é clara, eram nelas que penduravam
os monarquistas para serem enforcados, antes do advento da guilhotina.
Em El Salvador e Nicarágua presenciei músicos cantando canções de estimulo para a Revolução Armada da Frente Farabundo Marti e a Frente Sandinista. Os músicos salvadorenhos do grupo Cutumay Camones cantavam ao som da música folclórica:
abraçados na luta,

cada irmão na trincheira por que amamos a paz...

um fuzil para defender a revolução...

a Maria, José e Sebastião,

já se foram a integrar,

com o companheiro responsável

pela frente popular...

vamos agora companheiros

abarricada levantar,

e os caminhões vamos estourar.

E os revolucionários cubanos em 1959 usavam a música tropical como a salsa e o merengue para instar o povo ao uso das armas, como se ouve na canção, o canhão. Mas, como se observa, não é somente a violência que pode ser difundida musicalmente, estudos feitos por Hugo Vela (1) na música folclórica anônima da América Latina em doze paises, demonstram o quanto essa música expressa a ecologia da região, a religiosidade e o trabalho camponês, no discurso de seus cantos. Assim como a música erudita de Johann Sebastian Bach expressa o mais profundo do barroco
religioso e Wolfgang Amadeus Mozart e Joseph Haydn expressam o clacissismo. Mas em nenhum período da história a música esteve tão próxima do estimulo para uma cultura de paz como no final dos anos 60 e primeira metade dos anos 70, isto é, nos anos da Contra Cultura.
No livro Pensamento e Prática em Educação Ambiental, Vela (2000) mostra o quanto a segunda metade do século XX é marcada pelo nascimento de movimentos sociais globais sociais que se gestaram durante a primeira metade, os movimentos de Contracultura surgidos nos anos 60, de maneira geral, contrários ao Status Quo, aparecem tanto em Praga, como na França, Alemanha, Inglaterra, México, Buenos Aires e principalmente nos Estados Unidos. Nas ruas e nas universidades, a contestação era generalizada: a Democracia, a Universidade, a Liberdade, o Racismo, o Industrialismo, a Paz, o Meio Ambiente e a Qualidade de Vida, tudo era discutido e novas propostas surgiam. Em especial, os grandes festivais de música surgidos efetivamente da Contracultura, especialmente WoodStock, pela sua organização, as manifestações artísticas e o público, especialmente o Rock and Roll, com suas músicas e cantos ali apresentadas, demonstraram o que 500 mil pessoas, norte-americanas ou não, propunham e exigiam do mundo; Paz e Amor. Um ressumo com alguns dos principais títulos das músicas apresentadas nesse grande festival dão uma idéia das exigências: Minha Geração, Liberdade a Joe Hill, Viet
Name, Uma Pequena Ajuda para os Meus Amigos, Por Favor, Por Favor, salvem a natureza, entre outras. As letras dessas músicas trazem claramente a proposta de um novo mundo e uma nova sociedade, através do cuidado com as crianças, a liberdade para os presos políticos e sindicais, o fim da guerra e os preconceitos, a ajuda e cooperação entre os humanos, e a liberdade e amor pela natureza. No mesmo período o exercito dos EUA invadia a Universidade de Berkeley, instalavam-se as ditaduras na América do Sul e se aprofundavam as da América Central, assim como a polícia francesa massacrava estudantes e operários.