Esta é a histórica praça de maio em Buenos Aires, ao fundo a Casa Rosada, sede do governo argentino. A praça constitui-se em um lugar muita historia e paz, vistada por pessoas do mundo inteiro. Estivemos por lá Paulo ( meu filho) e eu, quando da participação de encontro que discutia o desenvolvimento rural latino americano.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

A musica como linguagem - Parte II


As conclusões de George Thonson confirmam a relação do complexo associativo que liga a música e a dança mimética com as ações sociais no surgimento da essência humana. Para ele, ocorre a elaboração de um pensamento racional sobre a natureza e a criação da arte, que no caso da música, a dança mimética, e a poesia, são demonstrações de que efetivamente o complexo arte e construção social pertence a uma etapa muito afastada do desenvolvimento do pensamento humano. Ouvia-se música e dançava-se por alegria e luto, para homenagear deuses e chefes, para treinar guerreiros e educar pessoas. Mitos e lendas contam sua origem na grande maioria das sociedades.
Nesse contexto, há consenso entre os estudiosos do assunto, na afirmação de que todos os outros modos de comunicação surgiram a partir destes sinais, vinculados às transformações pelas quais passou a atividade essencial da espécie humana, que é o trabalho, em função da obtenção dos bens necessários à subsistência.
Portanto, considerando que desde os primórdios da sociedade humana houve a necessidade de transmitir mensagens, primeiro à unidade da tribo, à crença nos deuses, para ensinar as técnicas de caça e pesca, os discursos, mágicos, religiosos ou heróicos, não é de se duvidar que a música e a dança tenham sido das primeiras manifestações artísticas do homo sapiens. Atualmente ninguém duvida da codificação que a música e o canto levam consigo, representando simbolicamente estilos de vida e ideologias ainda não existentes ou ainda não existentes na vida exterior, mas que podem vir existir graças à qualidade criativa da Arte.
David Tame, no livro, O Poder Oculto da Música (1984) afirma que as evidências sugerem vigorosamente que o efeito da música sobre o indivíduo é similar das outras experiências de percepção e aprendizado, como a aquisição da linguagem.
Como já verificamos – diz ele -, existem similaridades definidas entre as influências da linguagem e da música sobre a sociedade. Ambas, por exemplo, atuam como codificadoras de conceitos intelectuais ou sentimentos emocionais que sem a palavra chave, canção ou peça musical correspondente, seria impossível que conceitos e sentimentos permanecessem desconhecidos e alheios a sociedades inteiras. Uma das faculdades humanas que se evidência plenamente afetada pelos efeitos da música e o canto, é o conhecimento e a percepção do tempo.
John Shepherd e outros, no livro A Sociologia da Linguagem Musical (1977) nos dizem que: A música é...um modo aberto que, através de sua natureza essencialmente estrutural, se ajeita singularmente para revelar a estruturação dinâmica da vida social, uma estruturação da qual o material forma apenas um aspecto. A música é conclusiva...por que o significado social só pode surgir e continuar a existir através da comunicação simbólica que se origina na comunicaçãoconsciente da qual a música faz parte.
É reconhecido também pelos psicólogos que as influencias da música na psiquis humana são ilimitadas e variadas. Não há duvidas sobre a influencia da música e o canto nas emoções e sentimentos humanos, de melancolia, de inspiração moral, alegria, energia, violência, sensualidade, calma, devoção, patriotismo, relatos de vida, tudo como experiência de vida, de um conhecimento artístico que permite uma visão diferente do mundo, e do mundo racional da ciência. O Conteúdo emocional da música é tão obvio que aceitamos sua existência a priori. Não há duvida de que a música transmite estados emocionais muito reais e, às vezes, muito específicos, eis o fato do por que se afirma que a música é uma linguagem. Dessa forma a música codificou movimentos inteiros da vida humana, até o surgimento do objeto de referência musical.
A música, diz David Tame (Op cit p 164): transmite a própria essência emocional ou realidade da informação. Tão reais e abertas ao uso prático são as influências psicológicas da música que essa arte tem sido empregada, no transcorrer do tempo, nas sociedades tribais ou nas grandes civilizações para a produção de efeitos emocionais e mentais.

No milenar Egito, o bater das palmas da mão e as bengalas marcavam o ritmo das tarefas agrícolas, tanto como as work songs ou felds hollers dos camponeses negros dos Estados Unidos. Mas no Egito de 1375 a. de C. a música não era apenas usada para tarefas agrícolas, o tocador de arpa cego, esculpido junto a seu grupo de músicos na pirâmide de Pa aten em heb, em Menphis, cantava a letra da canção também escrita no mesmo alto relevo, que procurava motivar a reflexão na nobreza e os intelectuais, para a morte e as incertezas da Vida. Bem como a viver o presente e desenvolver o desapego material. A canção termina dizendo, no Egito que acreditava muito na vida do além:
Alegrate!! Não te preocupes com isso!
Pensa, não esta no poder do homem levar os
bens consigo para o além...
Pensa, não há ninguém, que tendo partido,
tenha voltado

A música era o elemento principal no sistema educativo grego. Em Atenas, Esparta e Tebas todo mundo tinha que aprender a tocar o Aulos. Instruíam-se os alunos no manejo dos principais instrumentos. E nas reuniões sociais a Lira era passada de mão em mão, esperando-se que cada convidado cantasse algo ao som da Lira. Graças a obras de arte esculpidas, tais como o Cálice Brygos, conhecemos algo sobre os instrumentos empregados na Antiga Grécia, bem como o espírito e a natureza de sua música.
Em Mesoamérica, os povos pré-hispanicos tinham as cuícacalli, ou escolas de música. A música não era considerada um arte separada, era parte essencial do ritual religioso que regia a vida dos povos, dando sentido a cada ato e gesto desde o nascimento até a morte. Não se aceitava qualquer ritual ou reunião de celebração sem música. Tanto o ilustre frei Bernardinho de Sahagun no Códice Florentino quanto frei Diego Duran na História de las Índias nos relatam que nessas sociedades, em cada cidade e próximas aos templos existiam as casas de canto, donde uma série de professores de música, canto e dança, ensinavam os jovens a fim de que se formassem como mestres dirigentes de grupos corais, de baile, ou de rituais religiosos.